sexta-feira, 22 de junho de 2012







(....)Luis Dourdil andou por estes meandros da "secção de ouro" e da "porta da harmonia" e de outras
formulações da raiz aristotélica e paciolitica, o bastante para aceitar e por ventura admirar a simbologia geométrica de Jacques Villon que muito preciosa lhe foi para essas difíceis abordagens. E andou o tempo bastante para usar esse relacionamento com a independência de quem aprende sozinho e sozinho solitariamente se encontra.(...)
 Mas o seu abraço ou fala o modo de sorrir eram, sem falha, tão imediatamente acolhedores!
Um pintor que, embora se visse, não se mostrava.(...)
O cubista mais racional de todos Juan Gris, o qual dizia que de um rectângulo de cor ou de um plano fazia uma garrafa
O mesmo que Dourdil à distância fez com as figuras que foi encontrando numa espécie de "promenade" ritualizada ao sabor de uma simpatia humana desperta ao espectáculo da vida.
Seres do acaso uns vagabundos,"motards", corpos perdidos sem desejo num banco de jardim, vultos: ou outro lado da vida, a inteireza de um corpo de peixeira na sua ortogonalidade sensual, diálogos sussurados de vendedeiras de mercado, belas como estátuas , seres todos eles, uns e outros de que um mundo suporta a existência ou, não por vezes, a sofrida inexistência.
Por esse labirinto ocupado que são a composição e a cena de um quadro de Dourdil passa, sente-se, e ouve-se um profundo silêncio.
A força dramática da obra...
Alguma coisa desse silêncio e dessa gravidade assenta naqueles cinzentos, por vezes frios com que enroupa a sua humaníssima figuração.Luis Dourdil é finalmente um admirável pintor do silencioso achamento da totalidade.                                                              Fernando de Azevedo (2001)In Cat. da Exp. Palácio Galveias Abril 2001

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